O dia em que fui ao Oktoberfest
Quando quis saber mais sobre esta festa, alguém me disse que o bilhete de entrada era muito caro. Mais do que isso, era uma sorte o conseguir. Tinha de ficar a fazer um refresh constante, como acontece com o Tomorrowland. Ter um bilhete destes na mão era tão difícil como ser recebido pelo Papa! BULSHIT! (agora imagina uma voz extremamente irritada e uma cena completamente dramática) Grande fonte de informação de m***a esta! Vivi enganada durante anos da minha adolescência! Não se faz!! (desta vez pensa numa voz ponderada a transmitir uma ideia que já foi refletida e tida em consideração) Ou, pensando bem, talvez tenha sido melhor assim... (Isso, ótima interpretação. Palmas!). Nos anos da universidade tinha uma capacidade impressionante de ingerir cerveja como se fosse uma água do Luso. Portanto, foi realmente melhor assim... (universitário pode tudo, certo?)
Ora, a ideia obviamente que não ficou esquecida e, em 2014, quando fiz o InterRail, estive vai não vai para sair de Bruxelas e trocar Amesterdão por Munique. Conheci três brasileiros na capital belga, em casa de um amigo onde estava a pernoitar, que iam partir no dia seguinte. Confesso que foi bastante tentador, mas isso seria deitar ao lixo todo o planeamento do restante trajeto. Também não valia isso, a minha altura ia chegar.
E chegou... Chegou em 2018! Ia passar nove dias à Suíça a casa de uns familiares, com um roteiro bastante promissor que me levou a conhecer as principais cidades deste país. No entanto, este roteiro era ainda mais empolgante por ter incluído dois dias em Munique para finalmente ir à maior festa de cerveja do mundo: o Oktoberfest!
Saímos de madrugada de La Chaux-de-Fonds, na Suíça, e fizemos quase 500km de carro, prontíssimos para chegar à hora de almoço. Éramos quatro nesta aventura e tudo correu como planeado. Para desmistificar, a entrada é livre, completamente gratuita. Apesar de ter pago cada litro de cerveja a 11.70€ (sim, só servem canecas de litro, isto não é para meninos), acaba por ser justo para a festa que é. Já vais perceber porquê!
No centro da cidade já era visível o clima de festa e os alemães estavam radiantes! Aqui, todos estavam com sorrisos no rosto e, se já visitaste outras cidades deste país, deves entender o que quero dizer. Se ainda não conheces, bem, são um pouco sisudos, é o que é. Portanto, estava um dia de sol, com milhares de pessoas pelas ruas, a grande maioria delas vestidas a rigor como manda a tradição: os senhores de Lederhosen, composto por calças de couro e suspensórios, camisa lisa ou ao xadrez, meias até ao joelho, casaco e chapéu, e as senhoras com o Dirndl, uma saia, camisa, corpete, avental, meias altas e sapatos. Ficam giríssimos e estava com imensa pena de não estar igualmente a preceito.
Passava um pouco das três da tarde e cada vez mais pessoas iam em direção ao Theresienwiese, o complexo que serve de palco para esta festa. Neste percurso acompanhámos parte do desfile dos cavalos que carregam os barris ornamentados. Fazem-no todos os dias, como que a relembrar que a festa está a decorrer. Chegámos. Estavam centenas de pessoas a entrar. Comecei logo a observar tudo e fiquei completamente espantada.
Atenção: a partir deste pórtico de entrada e deste ponto de leitura, vou-te contar, com toda a verdade, a minha experiência no Oktoberfest. Tem alguns litros de cerveja à mistura, portanto, é óbvio que excessos estão aqui bem patentes.
Entrámos e começámos a explorar este espaço. Tinha mais divertimentos do que qualquer género de feira popular onde já tinha estado. Carrosséis, carrinhos de choque, casas do terror, cadeirinhas... Bem, dos mais simples a outros com mais adrenalina, havia escolha para todos os gostos. Havia também barraquinhas a vender recordações, outras com comida, de vários tipos, mas claro que o cheiro a salsicha se destacava entre as outras coisas. Pelo meio estavam as tendas (que na verdade são autênticas casas), 14 grandes, algumas com capacidade para 7 a 9 mil pessoas, e 20 pequenas. Parece surreal, mas durante os 14 dias do evento passam aqui, em média, 500 mil pessoas por dia! O que dá um total de 7 milhões de visitantes por edição! É muito povo!
Escolhemos uma tenda aleatória e entrámos. Estava completa. Escolhemos outra e tentámos, mas também não havia lugar. Penso que foi à terceira que conseguimos uma mesa - isto é muito importante, porque só é servido quem está sentado. Ao nosso lado estavam dois americanos que tinham chegado a Munique nesse dia. Ainda não eram cinco da tarde e, pelo estado deles, já tinham bebido umas boas canecas. Assim que nos sentámos perguntaram logo de onde éramos e ficámos imenso tempo a conversar. Pedimos a primeira rodada para nós. Pouco depois, juntou-se a nós uma alemã e uma austríaca, extremamente simpáticas e divertidas. Sabiam todas as músicas que aquela banda estava a tocar. Eram tradicionais da Baviera, portanto (ainda) não conseguíamos acompanhar. Íamos metendo conversa com as outras mesas. Atrás de nós estava uma família de italianos. Um dos senhores mais velhos, talvez nos seus 50/60, estava imparável. Pedimos a segunda rodada. A esta altura a música começa a ser mais para os nossos ouvidos. Já todos sabíamos dizer “ein prosit der gemütlichkeit”, que é o típico brinde alemão e significa “brinde feliz”. Temos de bater (com alguma força) nas canecas uns dos outros. Por acaso são bem pesadas! Muito respeito pelas senhoras que estão a servir e conseguem carregar oito ao mesmo tempo! A banda mudou e a esta altura já se ouvem aqueles “hits” que toda a gente conhece. Há já algum tempo que o grupo de amigos da mesa do lado está a dançar em cima do banco, assim como outros um pouco por todo o recinto.
Nós os quatro pensamos em acabar esta caneca e ir até outra tenda ver o ambiente e comer alguma coisa entretanto. Parece que a especialidade é frango assado. Já passaram muitas bandejas bem apetitosas à nossa frente! Portanto, a ementa está escolhida. A música agrada cada vez mais e somos contagiados pela alemã e pela austríaca. É oficial: o banco virou dance floor também para nós! Parei um bocado só para observar tudo o que estava a acontecer à minha volta. Surreal! Eram milhares de pessoas a divertirem-se, mas a divertir à séria! Apercebi-me que um dos americanos adormeceu na mesa, mesmo com as restantes sete pessoas a saltar em cima do banco. Estava arrumado. O amigo levou-o embora. Mal empregada cerveja que ficou nas canecas, pelo menos bebiam até ao fim, certo? Passaram meia dúzia de minutos e chegaram novos colegas, uma americana e um alemão. Estavam no mesmo nível que nós e subir ao banco não foi problema.
Pedimos a terceira rodada. A música agora estava melhor do que nunca! Nem imaginas a euforia de quando passou a “Bella Ciao”. Os nossos vizinhos italianos da mesa da frente passaram-se! Nesta altura a festa era toda deles, com principal destaque, claro, para o senhor mais velho. Não ficámos atrás e cantámos em uníssono! Ver a série “Casa de Papel” proporcionou-nos aquele momento. Vem mais um “ein prosit der gemütlichkeit”. Quer dizer, já devia ser o centésimo, assim como a vigésima vez que tinha de ir fazer xixi... A casa de banho ficava na lateral exterior da tenda e, enquanto estava na fila, só me conseguia aperceber que estava a ver três cadeirinhas giratórias lá no alto. Mas quem é que é louco ao ponto de ir andar numa coisa daquelas?! Gostava de saber a percentagem de pessoas que vomita de lá, é que aposto que é elevada... Cá dentro a festa continua imparável! Agora ouvem-se aquelas músicas que toda a gente conhece. Não sei dar exemplo de nenhuma, muito menos daquela que me fez dizer ao meu namorado “Filma-me! Vou para o palco! Filma-me!”. Agora, PÁRA TUDO... Em primeiro lugar, onde é que eu pensava que estava?! Em casa de um amigo? No café do costume? Numa festa de curso? Oh meu Deus! Em segundo lugar, quando alguém te diz “filma-me porque vou fazer uma coisa completamente estúpida”, tu filmas! Agora teria um vídeo épico!! E não... Não era de mim no palco, porque (in)felizmente a porta estava trancada! Sim, eu tentei... Não só tentei várias vezes abrir a porta, como ainda procurei alguém do staff para me ajudar. Felizmente também que naquele momento não passou ninguém! Mas teria um vídeo épico da minha cara de falhada. Sabem aquele amigo que tem sempre alguma ideia mirabolante quando está com os copos? Toda a gente tem um, certo? Pois, costumo ser eu...
A certa altura apercebo-me que há pessoas novas na nossa mesa e na dos italianos. Não sei ao certo quantos são, mas são todos divertidos, menos duas raparigas que claramente estão a tentar arranjar confusão. Ainda bem que acabaram por ir embora. Continuámos a diversão com os novos amigos. A propósito da questão dos vídeos... Tinha começado o blog há pouco tempo e queria recolher material para fazer uma coisa engraçada, então filmei alguns momentos. Desculpa, mas ainda bem, é que foi de chorar a rir quando vi isto...
Nada contra, nem nada a favor. Esta rapariga tinha um autêntico matagal nas axilas. A única coisa que consigo achar semelhante, é o José Cid na mítica foto do seu disco de ouro. O que quero com isto dizer, é que aqui, neste complexo, encontras e vês de tudo! Isto é só um comentário caricato, diverti-me imenso com ela :)
As horas passaram a voar e às 22h30 soa um aviso de que o bar está fechado e é altura de começar a expulsar esta carrada de bêbedos, grupo esse no qual nos incluíamos. É aqui que faço um pequeno disparatezinho... Ainda tinha um bocadinho de cerveja na minha caneca e sou uma pessoa completamente contra o desperdício. Portanto, com toda a coragem ou descontração, pego na minha caneca e saio tenda fora... Supostamente isto não se faz ou, pelo menos, não se deve fazer. No entanto, por ano, são mais de 100 mil as tentativas fracassadas de roubar canecas. Não sei qual a percentagem de sucesso, mas é nessa que eu me insiro. Não me sinto envergonhada, porque como não tive “tempo” de comprar nenhuma recordação, acabei por arranjar uma solução! Também não considero isso um roubo, foi simplesmente uma aquisição, certo? (Aqui está ela em casa...)
Cá fora estava muita coisa a acontecer e o meu namorado e o irmão ainda acharam divertido ir andar de carrinhos de choque. Fiquei em terreno plano, apesar de às vezes sentir que a Terra estava a mexer e a girar demasiado depressa. Como se não bastasse, o irmão do meu namorado comprou bilhetes para todos para a “casa dos espelhos”. Nesta parte ele foi o único aventureiro, portanto teve de ir várias vezes. Só via pessoas a bater com a cabeça nas “paredes” a pensarem que era a saída. Já estava demasiado confusa, logo foi uma boa decisão não ter ido. Em vez disso, apercebi-me que ainda não tinha encontrado nenhum português e, quanto a isso, sabes o que dizem, “há um português em qualquer parte do mundo”. Tentei encontrar, como quem diz, dei uns gritos a ver se aparecia algum, mas sem sucesso. Portanto, quando não encontras nenhum português, é porque esse português és tu!
A dado momento fez-se luz e alguém disse que talvez, assim com alguma certeza, estivesse na hora de irmos comer qualquer coisa. Pois é... Desde o almoço, que tinha sido uma ida ao McDonald’s há umas boas horas, que não comíamos nada... Aquele frango super tradicional que tinha ótimo aspeto dentro da tenda? Não chegou a ser pedido... Portanto, era claro que nos tínhamos esquecido daquela necessidade básica que é comer! Fomos imediatamente às barraquinhas da comida, mas nem uma, das dezenas que lá havia, nos serviu. Aquela coisa de estender horário e incumprir licenças, só acontece mesmo em Portugal. Bati nas janelinhas, pedi delicadamente, mas nem um pão do dia anterior nos deram.
O recinto estava a ficar cada vez mais vazio e tivemos de sair. Assim que passei aquele pórtico, tive noção de que estava a terminar uma das noites mais épicas de sempre, numa das melhores festas a que já fui, num sítio que tanto desejei ir. Foi muito, muito, mais do que algum dia imaginei. É uma diversão inexplicável! Valeu todos os quilómetros percorridos, as poucas horas de sono, a pouca comida que ingeri nesse dia (qualquer coisa como uma sandes, um McChicken e um pacote de bolachas) e até os 50€ por pessoa num quarto partilhado.
Para terminar mesmo assim em beleza, a polícia tinha um carro de intervenção no meio da ponte que faz a passagem do Theresienwiese para o centro da cidade. Não estavam a controlar os níveis de álcool, nem a passar multas ou tão pouco a manter a ordem, estavam sim, WAIT FOR IT... A pôr música!!!! Sim, a polícia estava a fazer um after party no meio de uma ponte depois do Oktoberfest!! Portanto, foi mesmo LEGENDARY!!
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