InterRail: 21 anos, 12 países, uma experiência para a vida
Tenho muitos sonhos, sempre tive, mas alguns
tornei-os objetivos. Tinha 21 anos quando estava a terminar a licenciatura e
achei que era a melhor altura de me fazer à estrada ou, neste caso, aos carris.
A ideia apareceu cedo, talvez no início da
adolescência. A imagem de um bilhete de comboio que me permitia percorrer a
Europa de mochila às costas era o el dourado de todas as ideias mirabolantes
que já me tinham passado pela cabeça. A diferença? Esta resistiu e persistiu.
Uma das maiores preocupações que tinha era
encontrar a companhia certa e conseguir juntar o dinheiro necessário para uma
aventura destas. Um ano antes comecei por fazer uma poupança de 1€ por dia e, com
o aproximar da data, aumentei o valor para cerca de 40€ mensais. Pode parecer
pouco e inútil, mas acreditem que faz toda a diferença!
Tinha muitas perguntas e muitas dúvidas.
Receios nem tanto. Para quê criar obstáculos quando era uma das coisas que mais
queria fazer?! Certamente iria ter contratempos, mas uma viagem deste tipo
serve precisamente para nos pôr à prova. Queria testar-me. Sair da minha zona
de conforto. Ver as cidades como elas realmente são e não apenas aterrar,
apanhar um transporte e pousar a minha mala. Queria sentir a sensação de chegar
a um sítio e ter de perceber qual a direção correta. Procurar uma rua e um
edifício numa grande metrópole e descobrir qual seria a cama onde ia pernoitar
aquela noite. Andar de mapa na mão e assinalar os principais pontos por onde
tinha passado. Encontrar o supermercado mais barato para “fazer umas sandes
para o caminho”, que na verdade eram sinónimo de uma refeição (poupada).
Carregar uma mochila bem pesada, porque era tudo o que tinha para aquele tempo.
Sentir a dor nas pernas e as bolhas nos pés dos primeiros dias. Sentir o frenesim
e a adrenalina de apanhar cada comboio e ver o que me esperava por aquela linha
fora. Cruzar-me com dezenas de pessoas, partilhar histórias e, ao mesmo tempo,
criar as minhas.
Foram 22 dias realmente muito intensos, talvez
os mais intensos que já vivi. Era deitar tarde, acordar cedo ou simplesmente
“passar pelas brasas” entre comboios. A verdade é que começava um novo dia
sempre feliz. Como queria aproveitar cada hora ao máximo, fazia as viagens
longas durante a noite e as mais curtas de madrugada ou ao final do dia. Andava
entre 15km a 20km a pé por dia, pelas 13 cidades que conheci, dos 12 países
onde passei.
Existem duas formas de viajar: partir à aventura
ou planear o roteiro. Num InterRail é igual. Talvez partir à descoberta, sem
destino certo ou horário definidos, seja uma aventura incrível! Mas se forem
com um orçamento definido e limitado, como foi o meu caso, esqueçam esse modo. Andar
tantos dias em viagem torna-se muito fácil gastar dinheiro desnecessário. Com
planeamento é possível fazer uma estimativa dos custos e, tão importante como
isso, permite fazer uma gestão do tempo em cada sítio.
Delinear a rota foi definitivamente o meu maior
problema. Para começar, levou algum tempo a escolher os locais que queria
visitar. A ideia inicial era conhecer cerca de sete/oito países, que acabaram
por ser dez, com passagem por mais dois. Mas mais complicado que isso foi definir
a rota final, combinar as ligações dos comboios entre cidades e pequena
terrinhas, os horários e as alternativas. Que dor de cabeçaaaa!!! À parte
disso, foi fazer listas: o que visitar em cada cidade, o que provar em cada
sítio, várias opções de hosteis/pensões/AirBnb’s para dormir, o que levar na
mochila e mais uma infinidade de coisas super, hiper, mega indispensáveis. Se
isto levou semanas a alinhar, imaginem se o fizesse na hora...
Ainda assim, é óbvio que nem tudo corre como
planeamos, há imprevistos, mas temos de ser flexíveis e estar preparados para
isso. Não podemos fazer um drama porque perdemos um comboio quando daqui a meia
hora há outro, calma. Eu planeei tudo e sabem o que aconteceu? Aventuras não me
faltaram, olha só... Inevitavelmente perdi alguns comboios. Na fronteira entre
a Áustria e a Suíça fiz parar um comboio quando já estava em andamento, acabei
por pagar um bilhete de primeira classe para poder seguir o trajeto que
pretendia. Na Polónia saí uma estação antes do suposto que, na verdade, era um
apeadeiro no meio do mato. Numa localidade entre a Holanda e a Alemanha tive depernoitar na rua, a estação estava fechada. Em Amesterdão quase alterei a rota
porque não tinha onde ficar, acabei num hostelboat. Na Áustria acordei uma pessoa a meio da noite que estava a ressonar e, claro, quase fui agredida. Mas
estas histórias conto depois.
Partilhei espaço com muitas pessoas, uns em
sítios melhores, outros diferentes ao que sequer imaginava que conseguia
coabitar. Provei novos sabores. Vi sítios que não sabia sequer que existiam. Apaixonei-me
por Viena, surpreendi-me com Bruges e desiludi-me com Praga. No meio de tantos
sentimentos, não há nenhum que seja negativo. Aprendi tanto. Sobre mim, sobre
os outros e sobre o mundo. Aprendi sobretudo que viajar é a melhor forma de
enriquecer e que o mais importante é ter trazido uma bagagem maior do que a
mochila que levei.
O meu InterRail em números:
Dias: 22
Ítens na mochila: 81
Países visitados: 10
Países onde passei: 12
Cidades que visitei: 13
Cidades onde passei: 42
Comboios que apanhei: 41
Metros onde andei: 6
Sítios onde dormi: 10
Preço da noite mais barata: 10€
Preço da noite mais cara: 25€
Noites no comboio: 6
Museus que visitei: 9
Monumentos que vi: 27
Câmbio de moeda: 3
Lavar a roupa: 1
Alimentação:
McDonald’s: 7
Lasanha: 2
Pizza: 2
Subway: 2
Kebab: 2
Cachorro quente: 1
Massa: 3
Arroz: 1
Refeição
mais cara: 15€
Refeição
mais barata: 1€
Cerveja
mais cara: 11€
(Há dados que ficaram por registar, talvez as refeições no McDonald's tenham sido superiores).
Durante 22 dias vivi entre Espanha,
França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Polónia, República Checa, Áustria, Hungria,
Itália, Vaticano e Suíça.
Esta foi a
maior sensação de liberdade e de responsabilidade que tive ao mesmo tempo.
Parabéns!! Um verdadeiro desafio. Na verdade uma aventureira e sem dúvida uma guerreira👌👍
ResponderEliminarObrigada!! Continua a acompanhar todas as minhas aventuras e que sirvam de inspiração para as tuas 😘😘
EliminarParabéns, foi um desafio que certamente ajudará a abrir novas portas, para um novo desafio: um emprego/ profissão. Felicidades e que nunca deixes de viajar..
EliminarObrigada :) viajar é a melhor aprendizagem que podemos ter! Certamente nunca o irei deixar de fazer. O desafio maior é conseguir ir a todo o lado com pequenas poupanças, mas se fosse tudo fácil não era tão saboroso :)
EliminarSendo filha de quem és, era óbvio que te ias divertir, e desenrascar fosse o obstáculo que te aparecesse. Foi precisa muita coragem, e acima de tudo muito mas, muito planeamento para tal viagem. Muitos PARABÉNS.
ResponderEliminarObrigada Lúcia :) quando somos felizes a fazer algo não existem obstáculos, apenas pequenos contratempos que servem para nos ensinar algo mais e claro, filho de peixe sabe nadar eheh :P
EliminarOlá Daniela. Estou a planear fazer um inter-rail em 2021. Confesso que ainda não comecei a fazer o planeamento, porque antes disso, ainda tenho outras viagens. Mas o que me faz mais confusão é organizar todos esses comboios. Há algum site com informações de todos os comboios na Europa ou temos de ir vendo um a um, nos respectivos sites dos países? Todas as dicas práticas para avançar com um inter-rail são bem-vindas :) Obrigada pela partilha!
ResponderEliminarOlá :) fazer o planeamento é mesmo muuuuito exigente e leva bastante tempo! A aplicação Rail Planner deu-me uma grande ajuda, mas tens de fazer todas as tentativas de ligações de uma a uma, partida + destino e podes ver os horários e as ligações que são precisas. Na altura tive muitas dificuldades em organizar tudo, eram poucas as pessoas que conhecia que já tivessem feito e felizmente hoje já se encontra muita partilha de informação. Espero brevemente escrever um artigo de como planear um interrail e dicas que me foram úteis. Estou ao dispor para esclarecer qualquer dúvida que tenhas e posso enviar o roteiro completo que fiz :) a melhor sugestão é que faças as viagens longas durante a noite, ainda que seja cansativo estar a trocar de comboio várias vezes, é a melhor forma de poupar tempo. Foi das melhores experiências que já tive e espero conseguir repetir :)
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