O dia em que comi um space cake em Amesterdão

     
    Já partilhei convosco um bocadinho de como esta viagem foi especial para mim. Foi em Amesterdão que comemorei os meus 26 aninhos acompanhada por mais sete amigos. A capital dos Países Baixos não precisa de grandes apresentações quanto à sua irreverência e, se estás a ler isto, provavelmente sabes do que falo!
     É uma cidade sem preconceito e isso é um dos fatores que leva tantos turistas a passar por lá. Querem ver e experimentar por si próprios este pedaço de mundo liberal onde a prostituição e a canábis são legais. Sex shops não faltam e coffeeshops também não. Todos os artigos que possas imaginar que existem sobre estes dois temas, são vendidos aqui! Chá, chupa-chupas, gomas, chocolate, bolachas e claro… Os famosos bolinhos. Para quem não sabe, os space cakes são bolinhos completamente normais, vendidos à fatia ou como um queque, que têm como ingrediente especial um bocadinho de canábis. 
     É mais provável ir a Roma e ver o Papa, do que ir a Amesterdão e não comer um destes bolinhos. Na minha primeira visita lá, em 2014, não o fiz, portanto era certo que desta vez ia acontecer. A ideia era à mítica coffeeshop Bulldog, mas estava completamente cheia e então optámos por outro lugar. Acabámos por ir à 420 (sim, é este mesmo o nome) e o aspeto é de um café banal e super calmo. Pedimos informações sobre como funcionava e a senhora foi bastante simpática. Basicamente: cada fatia tinha 0.5g de canábis e no caso de não estarmos habituados, como era o de todos, não era aconselhável comer mais de metade da fatia. Quanto aos efeitos, esses iam começar a aparecer cerca de 15/20 minutos depois e o “pico” passadas uma a duas horas. Pois é, como é algo ingerido o efeito acompanha a digestão, o que significa que não deves comer à alarve a pensar que “não está a bater”, quando se calhar só ainda não passou tempo suficiente.
     Nesta altura estávamos apenas seis e decidimos comprar duas fatias e dividir cada uma por três partes. Como nestas coisas nunca se sabe, foi realmente uma ótima ideia. Posso dizer que foi o melhor bolo de chocolate que já comi na vida, era m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o!! Como esta coffeeshop estava prestes a fechar, há muitos sítios que encerram às 19h, fomos andando para um pub até chegar a hora de jantar. Pelo caminho comecei a sentir umas coisas estranhas na cabeça, como que umas pancadinhas, mas pensei que era mais psicológico do que outra coisa. Já no pub, a sensação passou a ser na garganta, como se estivesse a ficar engasgada e aí comecei a estranhar mas não quis fazer grande caso disso. Lá está, estava toda a gente perfeitamente normal e podia realmente ser da minha mente. Mais de meia hora depois e estando todos à conversa de trivialidades, os olhos começaram a pesar e os ataques de riso a ser evidentes. Não queria dar “parte fraca” e dizer que era a primeira que estava a sentir alguns efeitos, mas já era difícil esconder e no meio de muitas gargalhadas saiu um “ok, estou a sentir”. A reação foi geral e alguém disse “até que enfim que alguém admite”. Estávamos todos no mesmo “estado”, só ninguém queria ser o primeiro a confirmar.
     Entre gargalhadas, um sentido de pleno “bem-estar”, os olhos pesados, a sensação de andar na diagonal, cantar músicas que já não lembravam ao menino Jesus ou, para mim a mais engraçada, a repetição sucessiva de “onde está a minha carteira?!” (quando estava bem guardadinha no bolso), estes foram os principais sintomas além de, claro, uma fome desgraçada!
    Já passavam das 22h quando nos sentámos à mesa e cada um devorou o seu prato. Pensávamos nós que depois de uma boa dose de comida os efeitos fossem pelos ares, mas não… Tornaram-se nossos parceiros pelo resto da noite.
     À meia-noite era o meu aniversário e como disse em jeito de brincadeira, este ano o bolo e as velas foram diferentes. Por esta altura estávamos todos mais mortos do que vivos, também devido às três horas que tínhamos andado de bicicleta, os vários quilómetros que caminhámos para conhecer a cidade e os últimos acontecimentos também tinham ajudado a isso. Passou a fase do riso, a fase do bem-estar, chill out ou do “tá-se bem”, e esta era a altura da moleza. A verdade é que só por volta das 2h da manhã é que voltei ao meu “eu” habitual. Feitas as contas foram sete horas... Sete horas, 420 minutos, quase 1/3 de um dia que aquele pequeno pedacinho de bolo, muito menos de metade, demorou a desaparecer do meu corpo.
   Tenho a dizer que foi uma experiência engraçada e que acho que não tem absolutamente maldade nenhuma. Acaba por ser algo que faz parte da cultura do país e é sempre uma alternativa a quem não quer fumar. No entanto, deves ter em atenção a quantidade que comes para que realmente não te faça mal. Acho que metade de uma fatia realmente é demasiado, portanto o melhor é optares por fazer como nós e dividir por pedacinhos.
    Se o quiseres fazer, aconselho que seja numa coffeeshop e não numa loja de rua, daquelas que também vendem recuerdos. Pelo que percebi, essas têm várias qualidades em que estão classificadas com estrelas e tudo. Suponho que a mais forte te leve para lá da via láctea. Os preços dessas rondam os 5€, a que nós comemos foram 7€. Apesar de ser mais caro, foi a melhor opção, pelo menos era de um local certificado.

     Vai a Amesterdão. É uma cidade incrível e não é só por estas coisas. Diverte-te muito, mas sempre com precaução, até porque há fortes probabilidades de caíres num canal (sim, já vi isso acontecer :P).

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