O dia em que dormi com 36 pessoas num quarto

        

    Parece uma loucura, o que na verdade foi. Esta aconteceu na Irlanda em 2016 e foi das viagens com mais peripécias que já tive.
    Dublin era um sítio que queria muito conhecer e na altura certa encontrei uma passagem bem baratinha, estava a pouco mais de 40€ ida e volta. A promoção terminava à meia noite e estava a tentar fazer a compra desde as 22 horas. O site bloqueava constantemente e não permitia finalizar a reserva. Obviamente que as horas foram passando e pela 1h da manhã o valor já ia em 89€. Era tarde demais para desistir e lá fui eu.
    Tal como sempre, já tinha feito uma pesquisa sobre alojamentos e ia conseguir um hostel por um bom preço. Mas, mais uma vez, na altura de reservar parece que todo o mundo se lembrou do mesmo e a disponibilidade de estadia em Dublin ficou quase inexistente ou a preços ridicularmente caros para duas jovens estudantes. A viagem estava comprada, não havia muito para lamentar, tinha de encontrar uma solução. 
    Esta apareceu dois dias antes da viagem num hostel mesmo no centro da cidade, a um preço bastante considerável e com ótimo aspeto. O problema? Eu ia quatro dias e só havia vaga para a primeira e a última noite. Segundo problema? Numa camarata com 36 pessoas... Leste bem, 36 pessoas! Assim teve de ser.
    Logo quando chegámos ao hostel falámos que precisávamos de mais uma noite e no caso de haver uma desistência para nos avisarem de imediato. Ao final desse dia a sorte esteve do nosso lado e conseguimos uma camarata de seis pessoas por 27€. Seis pessoas é um número razoável para dividir uma camarata, mas 36?! Bem... É quase insano! Há manifestações com menos presenças!
    Como chegámos cedo e ainda não era hora para fazer check-in, começámos por visitar alguns pontos da cidade. Ainda antes da hora de jantar tivemos então o prazer de conhecer o nosso quarto. Ficava no último piso, quase como uma cave, era uma divisão bastante grande e, mesmo para tantas pessoas, as camas tinham muito espaço entre si. Estava imensa gente a dormir, não ligámos a luz por uma questão de respeito e tentámos procurar a nossa cama com a lanterna do telemóvel. Surpresa das surpresas? A minha cama estava ocupada! Ainda pensei que pudesse estar a ver mal, mas não. Claro que me deu imensa vontade de rir porque já estava a prever que isso ia gerar alguma confusão. Um rapaz apercebeu-se da situação e perguntou se precisávamos de ajuda. Contei o que se passava e ele insistiu imenso que eu devia acordar a pessoa que estava na minha cama. Agradeci e disse que ia esperar mais um bocado, pois já tinha tido a experiência de que não se deve interromper o sono de desconhecidos. Como estavam mais algumas camas livres, apesar de saber que o quarto estava lotado, escolhi uma aleatoriamente, podia dar-se o caso de ter havido outra desistência ou, na pior das hipóteses, ia trocar os números de toda a gente e o último a chegar que se desenrascasse.
    Não tinham passado sequer cinco minutos quando um casal chegou e disse que aquele beliche lhes pertencia. Ok. A vontade de rir foi maior e já tinha ali envolvidas cinco pessoas na grande aventura de “em busca pela minha cama”. O tal rapaz disse que era agora, que tínhamos de acordar o outro para a situação ficar resolvida. Não tive como não concordar mas disse para apenas lhe perguntarmos qual o número dele e faríamos troca por troca.
    Como esperava, o meu “ajudante” não foi a pessoa mais meiga a despertar o pobre coitado que estava a dormir profundamente. Ficou muito confuso com o que estava a acontecer e sinceramente eu não lhe conseguia explicar melhor a situação tal era a vontade de rir. Quando percebeu, justificou que alguém também estava na sua cama e, tal como eu fiz inicialmente, escolheu outra ao acaso para se poder deitar. Foi confirmar no cartão que lhe tinha sido atribuído e... Imaginem só... Foi o meu “ajudante” quem provocou todas aquelas trocas!
    Aparentemente viu mal o número e ficou na cama do rapaz que estava na minha. Trocas e baldrocas feitas, já nenhum número coincidia com uma cama livre e limpa. Calculo que os últimos que chegaram ao quarto tenham mesmo tido de se desenrascar.
    Não posso dizer que não foi uma situação muito engraçada e que certamente nunca irei esquecer. No entanto, certamente que também não vou voltar a dividir quarto com tanta gente, nem aconselho isso. É de doidos! Em qualquer hora do dia há gente a dormir. As janelas não são abertas na totalidade e, portanto, podem imaginar que há um certo odor oriundo de 36 pessoas a respirar numa divisão do último andar. Há sempre gente a entrar e a sair, a todas as horas também. Não existe melhor forma de explicar que muitas das vezes nem sequer vemos o rosto das pessoas com quem estamos a partilhar quarto. Se nos fossemos conhecer todos, provavelmente aquilo deixaria de ser um dormitório e viraria uma festa, literalmente underground.
    São estas histórias que marcam as viagens e as tornam tão especiais. Esta era a primeira da minha amiga além fronteiras e posso garantir que não podia ter sido melhor. Sempre que recordamos a ida a Dublin a conversa começa sempre por recordar “O dia em que...” e a outra completa “dormimos com 36 pessoas”.

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Comentários

  1. tem o roteiro da viagem?e fotos?peço desculpa,mas estou mesmo indecisa e a precisar marcar!obrigada

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    1. Olá Cristina! Lamento só agora ter visto o seu comentário 😱 provavelmente já é tarde para a ajudar, caso não seja diga-me o que precisa 😊

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