O dia em que fui para Marrocos com 68 pessoas


      Há muito tempo que queria visitar Marrocos. Desde o Egito, em 2011, que não ia a um país com diferenças culturais vincadas e estava realmente a precisar disso. O bom de viajar não está só em conhecer sítios bonitos, ruas alinhadas e transportes públicos eficientes. Para mim, está sobretudo em ver outras realidades, lidar com diferentes tipos de pensamentos e hábitos. É ao sair da nossa zona de conforto que mais aprendemos e eu estava sedenta por isso.
    Não sei explicar bem porquê, mas sempre me imaginei a ir a Marrocos em grupo e quando comecei a priorizar este destino, foi nesta modalidade que baseei as minhas pesquisas. Atenção, isto não é por alguma vez ter pensado que pudesse ser um país inseguro ou por ter medo de ir “sozinha”, não, era simplesmente pelo facto de achar que ia ser muito mais divertido assim e, uma vez que há tanto para ver, talvez esta pudesse ser uma forma em que ia conseguir mais por menos.
    As primeiras opções que encontrei eram caríssimas! De tal modo que com esse dinheiro conseguia fazer várias viagens por ano ou uma daquelas mesmo grandes. Mas, do 8 veio o 80... Uma amiga falou-me de uma agência que fazia uma mega viagem a Marrocos, durante 10 dias, a passar por 15 cidades/localidades, a 289€... Como assim?! Claro que em primeiro lugar não acreditei. Em segundo, depois de ver todo o programa, fiquei aos pulos. Já tinha outra viagem marcada na mesma altura que ela optou por ir, de maneira que aproveitei o relato dela para agendar a minha. 
    Agora, perguntas tu e muito bem, como é que se faz uma viagem tão completa por um valor tão baixo? A resposta é simples: todo o percurso, desde Portugal e todos os sítios em Marrocos, era feita de autocarro. Podes já chamar-me maluca, mas isso não foi algo que encarasse como um problema, olhei mais para isto como uma aventura! Entrei em contacto com a agência e eles explicaram-me tudo. Pareceu-me perfeito! Até podia ficar um pouco reticente se não conhecesse alguém que o tivesse feito, mas como tinha a experiência da minha amiga, sabia que era viável e que o programa iria ser todo cumprido. 
    É muito comum receber mensagens de pessoas que dizem que não viajam por falta de companhia ou então que gostavam de ir comigo porque se identificam com o tipo de viagens que faço. A certa altura fez-se luz na minha cabeça e decidi juntar as peças todas. Entrei de novo em contacto com a agência e propus uma parceria de forma também a dinamizar o blog. Eles foram muito recetivos à ideia e em meia dúzia de dias preparei toda a informação para começar a divulgação deste grande périplo por Marrocos! Fiz tudo ao longo de alguns meses e isto levou muito trabalho e muitas horas de dedicação, mas ao mesmo tempo uma satisfação incrível por estar a ajudar algumas pessoas a concretizar um sonho :)
    Inicialmente o grupo seria constituído por 45 pessoas e, até eu que já fiz várias viagens de grupo, achei que podia ser muita gente para um roteiro tão complexo. Sabemos que não somos o povo que tem a pontualidade como referência e isso tende sempre a criar algumas problemáticas, nomeadamente, no cumprimento de programas. Ora, há um dia que me comunicam que a viagem está a ter muita procura, o que nem seria de estranhar, e que o grupo passa então a ser constituído por 68. SESSENTA E OITO?! Até me deu vontade de rir! Sessenta e oito pessoas é muita fruta e, como costumo dizer, há manifestações com menos gente! Nem sabia que existiam autocarros com tanta capacidade, mas se a agência dizia que era possível e que iria correr tudo bem, então vamos embora!
    No dia 20 de setembro de 2019 estávamos 68 pessoas metidas num autocarro em direção a Marrocos para passar os próximos 10 dias. É uma ideia alucinante, mas jamais conseguirá ser tanto como o que foi esta viagem. Uma coisa foi certa e só com o passar dos dias é que me apercebi realmente disso, claro que esta viagem só poderia correr bem, independentemente do número de pessoas que participavam nela. Éramos praticamente todos desconhecidos, mas tínhamos uma coisa em comum: o objetivo de conhecer Marrocos e aproveitar aqueles dias ao máximo, sem que o trajeto de autocarro ou o partilhar quartos (em alguns casos) fosse um impedimento. Ali, estávamos todos com o mesmo espírito! 
  Foram dias muito intensos. Andámos entre Chefchaouen, Méknes, Féz, Merzouga, Deserto do Sahara, Vale do Ziz, Gargantas do Todra, Studios Atlas, Ksar Ait Ben Haddou, Marraquexe, Alto Atlas, Casablanca, Rabat, Asilah e Tânger. Contámos mais de dois mil quilómetros na estrada. Perdemos conta às peripécias que vivemos. O que aprendemos nem sequer é quantificável. E as memórias, essas, vão ficar para todo o sempre. 
    Como é que é fazer uma viagem de grupo com 68 pessoas? É incomparável com alguma coisa que já tenha feito antes (a partir daqui a história do dia em que dormi com 36 pessoas num quarto é para meninos). Todos os dias tinha alguém novo para conhecer. Não faltavam conversas, assunto ou partilha de experiências. Trouxe um grupo de amigos extraordinário de pessoas que conheci e parece que conheço há anos! Na verdade, formámos uma família e é desta forma que nos chamamos.
   Ahh e nunca nos atrasámos! Foram vários os dias que tivemos de partir de madrugada e, num desses dias, o ponto de encontro era às 5h da manhã. Às 4h50 estávamos todos dentro do autocarro, prontíssimos para um novo dia cheio de aventura :) 
    Jamais conseguirei traduzir estes dias em palavras. Talvez tenha sido a viagem que mais me deu e é por isso que é das que guardo com mais carinho. Marrocos tornou-se um lugar especial e conto lá voltar sempre que puder. Para quem gosta muito de viajar, felicidade é sinónimo de conhecer, mas é também de partilhar. Afinal, na maioria das vezes são as pessoas que conhecemos pelo caminho que tornam esse lugar especial. Eu tive a oportunidade de ir a um país fantástico e partilhar aventuras com 68 pessoas. Não é fácil bater isto! 
    Acordo muitos dias com saudades de Marrocos. Isso diz tudo.


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