Serra da Lousã em 2 dias – Roteiro

   


    A Serra da Lousã é talvez um dos destinos mais procurados nos últimos meses em território nacional. Mesmo os que ainda não foram, estão à espera de ir. E porquê? Porque nesta serra há montanhas verdes, praias fluviais, boa gastronomia, aldeias de xisto e... Baloiços! Isso mesmo. Os baloiços são símbolos de infância, de sonhos e tempos felizes. Quem é que não gosta de recordar esses tempos? Aqui, nem que seja um estica e encolhe de pernas com o propósito de tirar uma fotografia, é inevitável que se esboce um sorriso de alegria por estar ao sabor do vento.

    Para uns já é um destino cliché, da modinha, concorrido e “batido”. Cá para mim, é um destino que “com pouco” se tornou muito. A Lousã é um verdadeiro exemplo do que é reinvenção e inovação. Pegou numa ideia simples e barata e aplicou-a no que sempre ali esteve. Às vezes não é preciso muito, mas para tudo é necessária criatividade :)

 

    Já desejava esta escapadinha há algum tempo e foi perfeita para fechar o verão, literalmente o último dia da estação quente e o primeiro dia do outono. A meteorologia estava de feição e os sítios por onde passei praticamente vazios. Foi ótimo para relaxar e era tudo o que precisava! Neste roteiro vais encontrar alguns dos principais sítios a visitar, mas só com umas duas semanas é que a tua visita ficava completa. A minha soube a pouco, mas foi em bom e com a promessa de voltar :)

 

Cabril do Ceira


    O Cabril do Ceira fica em Serpins. Dada a sua formação geológica, é também conhecido como a “Garganta do Cabril do Ceira”. Ainda a que uma dimensão consideravelmente menor, fez-me de imediato recordar a Garganta do Todra, em Marrocos, local onde vi pela primeira vez um cenário assim. Podem ficar atrás no tamanho, mas nem tão pouco em beleza.


 

    Aqui forma-se uma espécie de piscina natural, o que torna este espaço ainda mais bonito. Não resisti e fui testar a temperatura da água, que estava ótima por sinal, mesmo sendo o último dia de verão! Imagino que nos meses mais quentes este lugar seja muito concorrido, mas eu tive a sorte de estar sozinha durante cerca de duas horas. Que paz! Sentei-me na água e tirei uns momentos só para apreciar a paisagem. É em sítios assim que digo sempre que temos uma sorte gigante por viver no país mais bonito do mundo!  

 

 

    Ainda estava no caminho e já estava decidido que o almoço em modo piquenique ia ser aqui. Apesar de não haver mesas, é um sítio perfeito para uma refeição com vista privilegiada. O chão e as pedras são ótimos bancos, há que ser prático e utilizar os recursos que a natureza nos dá :) Não é preciso dizer que no final deves trazer todo o lixo contigo, pois não?

 

    

    Para chegares aqui basta colocares no GPS. Há um troço de estrada de terra batida e algumas partes onde apenas dá para circular um carro, mas perfeitamente acessível. Deves deixar o carro na parte mais larga, a uns 200 metros de chegar mesmo ao local. Isto é válido em época baixa, onde cabem uns seis carros, calculo que no verão não haja lugar para toda a gente.

 


Praia fluvial Nossa Senhora da Piedade

 

 

    Este verão foi rico em conhecer praias fluviais e a da Nossa Senhora da Piedade é bastante promissora para que no próximo ano lá vá dar um mergulho. Desta vez tive azar, porque não tinha água absolutamente nenhuma! Mas na verdade, não era esse o meu propósito, pelo menos para este dia. O que me trouxe aqui foi um dos cantinhos mais especiais e cobiçados da Lousã... Este baloiço :)

 

 

    A fotografia fala por si. É lindo! Este espaço aqui é um quadradinho edílico e perfeito. A cascata, o pequeno poço e um baloiço. Quando cheguei ao início da praia fluvial e a vi completamente seca, pensei que por algum motivo também pudessem ter retirado o baloiço, porque não o via. Dei umas voltas e nem rasto dele. Portanto, tens de seguir o canal de água até ao fundo e é lá que ele está.

    Talvez tenham aparecido umas dez pessoas enquanto aqui estive, o que significa que no verão deve haver uma fila interminável.

    Neste espaço há um bar em funcionamento durante a época balnear e é aqui que se encontra o famoso restaurante “O Burgo”.

 

Ermida de Nossa Senhora da Piedade



    Este é um santuário Mariano constituído por três capelas. A mais antiga foi construída entre os séculos XIII e XIV. A ornamentação do espaço é em grande parte feita por xisto, o que lhe dá alguma distinção. Reserva algum tempo para poderes andar por aqui a explorar e fica atento aos detalhes.


 

    O topo dá-te uma vista deslumbrante para o castelo e para a serra. São alguns degraus, mas nem por isso exigentes.

 

 

    Para aqui chegares basta seguires o caminho que fica mesmo ao pé do restaurante.

 

Castelo da Lousã

 

    Este é o Castelo de Arouce, mais conhecido como Castelo da Lousã. Não se sabe ao certo a data da sua construção, mas o que é certo é que em 1151 D. Afonso Henriques lhe atribuiu uma carta de foral e isso promoveu a consolidação e reorganização administrativa do território.

 


Definitivamente esta não é a melhor fotografia que vais ver do Castelo da Lousã!


    É possível visitar por dentro de terça-feira a domingo (das 10h30 às 12h30 e das 14h30 às 17h30) e penso que seja gratuito. Calhou ir a uma segunda-feira, por isso só me valeu espreitar pela porta.

 

 

    Atrás do castelo há um parque de estacionamento gratuito e foi onde deixei o carro. Depois segues a pé tanto para a praia fluvial como para a Ermida de Nossa Senhora da Piedade. A caminhada não é longa e tens uns passadiços que te indicam o caminho.



    Aqui também encontras placas indicativas de vários percursos pedestres, na sua maioria para as Aldeias de Xisto. Algumas ficam a poucos quilómetros, como por exemplo o Talasnal, que fica a cerca de 2.5km. Se estiveres com energia, faz-te ao caminho, é o que vou fazer numa próxima oportunidade :)

 

Baloiço do Trevim


 

    Já te imaginaste a andar num baloiço em que sobes tão alto que quase tocas nas nuvens? Bom, no Baloiço do Trevim isso fica mais próximo de acontecer :)

    Fica no Alto do Trevim, a cerca de 1200 metros e é certamente um dos baloiços mais conhecidos de Portugal. A vista é excecional e baloiçar aqui dá borboletas na barriga. Aos que dizem “Hmmm eu não me vou meter aí a fazer figuras” (porque sei bem que os há...), aconselho a que experimentem e desfrutem do momento. Eu senti-me criança outra vez e saíram imediatamente umas gargalhadas fáceis. Que bom! :)



    A melhor hora para vir aqui é no pôr do sol. Ainda assim, seja qual for a altura do dia, não me parece que vás ficar desiludido com o cenário.

 

Aldeia de Xisto do Talasnal


 

    Não sei se sabes, mas é na Serra da Lousã que estão 12 das 27 Aldeias de Xisto. Portanto, não falta o que explorar por aqui e este é um grande atrativo de muitos turistas. Eu sou do interior e como já confessei, xisto, casas de xisto, aldeias de xisto, é algo que me é muito familiar. Basicamente, a terra de todos os avós ou bisavós tem casas deste tipo. Logo, não é algo que me deixe completamente fascinada. No entanto, o Talasnal anda nas bocas de Portugal e eu também fui conhecer.

 

           

    A aldeia está muito bem recuperada e só passear pelas ruas chega a ser aconchegante. Os espaços estão muito bem cuidados e é claramente percetível porque é que quem vem aqui e vê este tipo de construções pela primeira vez fica completamente rendido.

 

 

    Geralmente estas aldeias são pequeninas e esta não é exceção. Em pouco tempo percorres a grande maioria das ruelas. Enquanto o fazia senti um cheirinho de algo a sair do forno e dei de caras com o café “Retalhinho” e a indicação que tinha um doce típico. Era impensável não entrar para provar. Os retalhinhos são um doce tradicional de castanha e amêndoa e são maravilhosos! Custou 1.30€ cada um.

 


    Ao ir embora do Talasnal, na direção que vai para a Aldeia de Xisto de Casal Novo, deparei-me com este quadro das “Montanhas de Amor”, nome pelo qual também é apelidado. Este enquadramento é mesmo muito bonito e deixa uma memória final maravilhosa! :)

 



Moldura “Isto é Lousã”

 

    O projeto “Isto é Lousã” é o responsável por todo o dinamismo que se encontra por esta serra. Esta moldura, com uma vista panorâmica para a própria cidade, é mais um dos locais que se tornaram paragem obrigatória. Foi sem querer que o encontrei, o roteiro para este dia já estava completo, mas ainda bem que assim foi J Fica à beira da estrada no sentido do Talasnal para o centro da cidade. Para ser mais fácil o encontrares, basta colocares no GPS com o próprio nome: Isto é Lousã – Moldura.




    As letras de madeira que compõe a palavra “Lousã” também são um grande atrativo, mas essas não passei por elas. Ficam perto da Aldeia de Xisto do Chiqueiro e também as podes procurar no GPS com este nome.

 

Parque Biológico da Lousã

 

    Independentemente do que tivesse ficado por visitar no dia anterior, a manhã do segundo dia de visita estava reservada para o Parque Biológico da Lousã.

    Este é um projeto incrível de conservação e proteção das espécies com uma forte vertente de consciencialização da importância do mundo animal. Aqui encontramos diversas espécies que vivem ou já viveram, e neste caso é porque estão em risco de extinção, em território nacional. Desde animais domésticos, aves de rapina, répteis e até animais selvagens, há tanto para observar e conhecer!

 

 

    A área do parque é mesmo muito grande e tem ótimas condições. Infelizmente há animais que precisam destes espaços para estarem protegidos e assim se poderem conservar as espécies, como é o caso do lince.



    Aqui vi lobos, lamas, várias espécies de cabras, lontras, muitos tipos de aves de rapina, diversos animais domésticos, mas, tenho de confessar, que foi o urso pardo que mais me impressionou. Estive algum tempo a vê-lo brincar e a natureza é realmente fascinante! Por outro lado, não fazia ideia que já tivemos esses bichinhos a viver livremente no nosso território. Já não temos porque, como deves imaginar, eram sempre abatidos quando avistados.

 

 

    Vá, também adorei estes bambis (sim, para mim são bambis!) e não podia deixar de os mostrar :) 



    A par de toda a diversidade de animais, há também um sem fim de espécies de árvores e plantas. Aqui, por exemplo, é um labirinto feito com árvores de fruto :)

 


    Mas não penses que fica por aqui... Dentro do parque tens ainda o “Espaço da Mente” para conhecer. Uma das coisas que mais gostei foi da cronologia que vai desde os primórdios da evolução do Homem até aos dias de hoje. Todos os acontecimentos estão datados e identificados por continentes. Para quem gosta de História, como eu, é algo mesmo muito interessante.

 

 

    Numa outra sala tem também muita informação, curiosidades e aspetos culturais sobre a região.

 

    A visita ao Parque Biológico foi das coisas que mais gostei de fazer e que mais me surpreendeu. Na verdade, foi o início de um dia recheado de surpresas boas! A entrada custa 8€ para adultos e, por mais 1.50€, podes logo adquirir o bilhete para o Templo Ecuménico.

    Passei aqui cerca de três horas e vi tudo com calma e tranquilidade. Se isto é incrível para adultos, nem imagino o que será para as crianças! Portanto sim, é um sítio de visita obrigatória.

 


    Podes tornar o teu passeio ainda mais interessante ao comprar um saquinho de comida por 1€ e alimentar alguns animais da quinta (cabras, porcos, galinhas...). Claro que foi o que fiz e foi muito divertido :D

 


Templo Ecuménico Universalista

 


    O Templo Ecuménico Universalista, em forma de pirâmide, é um espaço onde estão representadas todas as religiões do mundo. Este templo está aqui como símbolo de respeito e tolerância por todas as crenças e é uma forma de mostrar que todas elas podem coexistir no mesmo local.

 


    Aqui são promovidos valores fundamentais como a verdade, a bondade e a moral. É um monumento dedicado à paz, onde se presta homenagem aos que sofrem/sofreram de intolerância religiosa.

    À volta do templo interior, está uma cronologia com os principais acontecimentos religiosos de todo o mundo, desde o início da História. Estão aqui umas máquinas onde podes ficar a saber mais sobre cada religião, a sua origem e as suas características.

           


    Sem dúvida alguma que precisamos de mais espaços assim!

 

Aldeia de Xisto do Candal

 


    Ainda havia tempo para explorar mais uma Aldeia de Xisto e, das 12 que fazem parte da Lousã, a do Candal despertou-me atenção pelos múltiplos relatos de “uma das cascatas mais bonitas do país”. Já sabes como é, se há uma cascata por perto, é esse o caminho que vou seguir.

    Esta aldeia fica literalmente à beira da estrada e à semelhança do Talasnal, também ela está toda arranjadinha e airosa. Pelo que tinha lido o percurso ainda levava algum tempo, então deixei a visita ao interior da aldeia para o final.

 

Cascata do Candal

 

    Não tenho outra forma de começar sem afirmar desde já que foi das cascatas mais impressionante que já vi em território nacional continental. É mesmo, mesmo, muito bonita! Vale todo o esforço e suor, que ainda é algum. A admiração podia vir da falta de expectativas, mas não me parece que tenha sido só isso...



    A cascata do Candal, localizada na Aldeia de Xisto do Candal, fica a cerca de 2km do centro. O percurso não é propriamente exigente, mas requer alguma atenção para ir identificando as sinaléticas. Para te ajudar, tens um artigo para saber como chegar aqui.

    Não te poupes a indecisões e faz-te ao caminho. A recompensa é maior do que o esforço :) 

 

 

Onde ficar

 

    A Serra da Lousã tem uma área considerável e, por isso, deves definir um local onde tenhas preferência em ficar. Há quem prefira ter a experiência de pernoitar numa das Aldeias de Xisto e para isso a oferta é vasta em alojamentos locais. Como sempre, a minha prioridade foi o preço a pagar e, como esta marcação foi feita com apenas dois dias de antecedência, o melhor sítio com qualidade/preço levou-me até à Quinta do Viso AL, em Miranda do Corvo, onde paguei 40.50€ por noite, sem pequeno-almoço.

    O quarto era bastante agradável e tinha ótimas condições. Este alojamento local faz parte do Hotel Viso, que fica a uns escassos metros. Apesar de ser em edifícios diferentes, era possível usufruir da piscina e do jacuzzi.



    Os comentários a este alojamento eram bastantes positivos, sobretudo nos que faziam referência ao dono do hotel e isso confirmou-se. No momento em que fiz o check-out, o senhor deu-nos um potinho de mel caseiro J Estes gestos tão simples fazem toda a diferença na forma de bem receber!

    Como já estava delineado que a manhã ia ser passada no Parque Biológico, calhou mesmo bem ser no mesmo sítio.

 

Onde comer

 

    Ora já sabes que o meu almoço foi um belo piquenique no Cabril do Ceira e, lamento, mas nenhum restaurante me podia dar uma vista tão boa quanto esta :p Para o jantar tinha duas opções: “O Burgo” na Lousã, e a “Ti Lena” no Talasnal. Estava com uma grande dificuldade em escolher, mas o problema tornou-se mesmo em encontrar um restaurante aberto a uma segunda-feira! Esta é uma realidade, há muitos sítios que apenas estão em funcionamento ao fim de semana ou toda a semana em época alta, por isso leva algumas opções extra em mente.

    Acabei por optar pelo restaurante “Museu da Chanfana”, sobre o qual já tinha lido boas recomendações. No entanto, fica também a saber que, durante a época baixa, o restaurante em si (ao lado do Parque Biológico) está fechado e as refeições são servidas no Hotel Parque Serra da Lousã.

    Fiquei de coração partido porque na porta estava uma lista dos pratos do dia e já estava a babar por uma bochecha de porco com molho de chouriça. Tinha tudo para ser um prato dos deuses do Olímpo! Assim sendo, acabei então a ir ao hotel e optei pela especialidade da casa, que é a chanfana. É ok, mas não é, de longe, a melhor que já comi. Na verdade, esperava um bocadinho mais. 


       Já o meu namorado escolheu um bife de novilho e ficou realmente bem servido! 



    Ambos os pratos vinham acompanhados com batatas fritas e migas, umas ótimas migas.

    O preço final foi de 32.35€ para duas pessoas (dois pratos, bebidas e uma sobremesa).

 

Como te podes deslocar


    Para visitares a Lousã é imprescindível ter carro visto que algumas deslocações ainda são consideráveis. Se não, se quiseres ficar mais pela zona centro e algumas das Aldeias de Xisto mais próximas, como disse há vários percursos pedestres entre elas.

 

Quantos dias são necessários

 

    Esta é uma pergunta de difícil resposta. A Lousã tem mesmo muito para ver, por isso, vai os dias que tiveres disponíveis para ir. É sempre melhor ir um do que nenhum, sendo que em duas semanas continuarias a ter coisas para explorar. Este roteiro foi feito em dois dias, a passo lento e sem correrias :)

 

Qual a melhor altura para visitar

 

    Qualquer altura do ano é boa para visitar a Lousã. No entanto, se quiseres aproveitar um bocadinho de tudo o que tem para oferecer, isto é, dar uns mergulhos pelas praias fluviais, recomendaria o início da época quente e o final do verão. Calhou ir no final de setembro e acabou por ser uma boa aposta. O dia estava bom e eram poucas as pessoas que andavam por lá. Portanto, em atrações como os baloiços, por exemplo, imagino que na época alta haja mesmo uma enchente.

    A parte negativa da época baixa é mesmo que alguns estabelecimentos estão fechados durante a semana. Nem sequer consegui comprar um íman de recordação.

           

Outras sugestões

 

    Como já referi várias vezes, nesta zona não te vai faltar o que visitar. Tens as 12 Aldeias de Xisto que esperam pela tua visita:

- Aigra Nova

- Aigra Velha

- Candal

- Casal de São Simão

- Casal Novo

- Cerdeira

- Chiqueiro

- Comareira

- Ferraria de São João

- Gondramaz

- Pena

 

            Se por outro lado queres uma atividade diferente, então recomendo os passadiços das Fragas de São Simão.

 

 

Parabéns Lousã! Tomara que apareçam mais clichés como tu :)



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