Estou em casa (de quarentena), e agora?


      Pois é, maltinha. Às vezes é preciso acontecer alguma coisa para começarmos a dar valor ao que realmente importa. Estamos a atravessar uma crise mundial, uma vez que foi decretada pandemia, por isso, mais do que nunca, devemos cumprir o que nos dizem para fazer!
Não vou negar, até há poucos dias eu estava a desvalorizar este patifezinho da covid-19 por completo. Ignorante? Não creio. Desinformada? Jamais. Pouco alarmista? É mais isso. No entanto, os últimos dias têm sido prova de que a situação é séria e que vai piorar nas próximas semanas. Temos como exemplo países vizinhos que estão em situações mais complicadas do que aquela que vivemos atualmente em Portugal, por isso, vamos unir esforços e lutar para que se mantenha assim. Como? Não podia ser mais fácil: ficar em casa.
Para começar, eu pensava que passados mais de três meses desde que estamos a acompanhar este novo vírus que começou na China, já toda a gente sabia do que se tratava, mas estou completamente enganada. Por isso, e porque é um problema do mundo e de todos, faz todo sentido usar este espaço para passar alguma informação. Vou deixar aqui um artigo que considero que está esclarecedor, escrito de forma simples, pela mão de quem sabe sobre questões de saúde:

(Andreia Castro, médica - Blog "Me across the world")

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Nos últimos dias temos assistido a um agravar da situação no nosso país e, lamento dizer, o cenário vai piorar drasticamente, uma vez que ainda não atingimos o pico de casos de infeção por este novo coronavírus. Desta forma, as entidades competentes, como a OMS, DGS, Ministério da Saúde, Governo e Presidência da República, têm vindo a aplicar medidas que permitem fazer o máximo de contenção a este contágio. As escolas já fecharam; algumas empresas estão a criar formas e estratégia para se trabalhar através de casa e outras estão a reduzir as equipas ao máximo; os centros comerciais, restaurantes e bares estão a funcionar em horário reduzido e com limites de capacidade máxima; os ginásios e as discotecas estão fechados; há espaços públicos condicionados, também fechados e interditados, como as praias de norte a sul. A recomendação principal é manter o isolamento social. Se tudo está fechado/condicionado e se as entidades competentes estão a criar todas as condições e restrições para que assim seja, explica-me, por que raio é que ainda há quem não cumpra?! 
    O pedido é simples: ficar em casa. Se todos evitarmos ao máximo o contacto com outras pessoas, estamos a quebrar as cadeias de transmissão e, desta forma, a evitar ao máximo a propagação deste coronavírus. Esta é a única forma de sairmos vencedores desta batalha com o invisível!

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Agora... Vamos esclarecer alguns pontos?

1. Sobre a quarentena:

- Quarentena não são férias
Uma quarentena é uma forma de precaução. Não devemos tomar isto como estando “dispensados do trabalho” e com tempo livre suficiente para ir para esplanadas, fazer jantaradas ou ir até aos parques e praias.

- Quarentena remete para o isolamento social
Está em contacto única e exclusivamente com as pessoas com quem tens realmente de estar, por exemplo, as que vivem contigo. Certamente que toda a tua família é muito importante para ti, portanto ficar uns dias longe deles é a melhor forma de mostrar esse carinho e amor. Protege sobretudo os mais velhos e aqueles que estão em grupos de risco – não é altura de ires visitar os teus avós.

- Quarentena preventiva é diferente de quarentena obrigatória
Uma quarentena preventiva é precisamente para prevenir e evitar contágios. Neste caso, com quanto menos pessoas nos cruzarmos, menos probabilidade temos de contrair o covid-19 que, como bem sabes, é de transmissão fácil através de pequenas gotículas. É por esta razão que é tão importante lavar muito bem as mãos com água e sabão (pelo menos 20 segundos) e desinfetar sempre que possível. Evita levar as mãos aos olhos e à boca. Cumprindo estes requisitos e atenção redobrada, como manter a distância de 1 metro entre pessoas, significa que podes ir à rua, mas só para o estritamente necessário!
Numa quarentena obrigatória tens de ficar em casa. Ponto. Os motivos podem ser vários e todos legítimos: podes ter vindo de uma zona considerada de risco, podes ter tido contacto com um infetado ou possível infetado, podes pertencer a um grupo mais vulnerável ou porque as medidas implementadas assim o ditam.

2. Sobre a informação:

Eu trabalho em informação e sei que é travada uma luta diária para conseguir filtrar tudo o que é realmente fidedigno numa redação. Há muita informação a circular, mas confia apenas na dos meios de comunicação e das entidades competentes (DGS, SNS, OMS, Ministério da Saúde, Governo e Presidência da República). Tens a televisão, rádio e jornais que neste momento trabalham de forma incansável para manter o país e o mundo informados sobre este tema tão sensível. Assim sendo:

- Informa-te de forma correta
Se queres acompanhar a par e passo o está a acontecer, basta seguires os meios de comunicação nacionais e as entidades já referidas (DGS, SNS, OMS, Ministério da Saúde, Governo e Presidência da República).
Ninguém tem interesse em ocultar informação. Isto é uma questão mundial e ninguém sai vencedor por ter menos mortos ou infetados. Números certos permitem agir e servir de base a estudos científicos para perceber o comportamento e mutação deste coronavírus.

- Ignora as partilhas nas redes sociais
As redes sociais são uma ferramenta extraordinária quando bem utilizadas. Neste momento, o que vejo é uma partilha desenfreada de informação falsa, errada e até descontextualizada. São vídeos, fotografias e até áudios que circulam diariamente por milhares de pessoas com conteúdo que não leva mais do que ao alarmismo e ao pânico. Ouvi um áudio em que um suposto médico dizia que os pulmões se desfaziam em dois dias e que neste momento estavam a ser ocultados milhares de casos de infetados e mortos em Portugal. Uma pessoa pouco informada obviamente que vai levar isto em consideração porque, afinal, foi dito por um médico. Meus queridos, atrás de um vídeo ou de um áudio, qualquer um pode ser médico! O pior é que estas coisas, de tão partilhadas que são, tiram credibilidade às entidades competentes e aos meios de comunicação. Deves partilhar sim, depois de verificares se essa fonte é fidedigna e credível e se essa informação é útil.

- Fala com os teus familiares
Por falta de perceção da quantidade diária de novidades divulgadas pelos meios de comunicação ou pelas falsas notícias, a verdade é que a maioria dos nossos familiares não estão realmente conscientes do perigo deste coronavírus e da importância de ficar em casa ou, por outro lado, estão demasiado alarmados a pensar que é um apocalipse (de modo que diariamente estão a esgotar os stocks dos supermercados!). Informa-te, fala com eles de forma direta e com linguagem simples, sobretudo os mais velhos. Explica a situação e quais as medidas preventivas. Uma conversa pode fazer a diferença e podes fazê-lo por telefone!

3. Recomendação a seguir:

- Não entupas o SNS24 nem corras para o hospital
A esta altura do campeonato nem consigo imaginar o caos vivido nos hospitais, centros de saúde e linhas de apoio. Portanto, sê consciente quando recorreres a um destes serviços. Ligar para o SNS24 (808 24 24 24) é imperativo caso apresentes algum sintoma (febre ou tosse), não o é (agora) se tiveres alguma dúvida que não seja realmente importante. Deves evitar ao máximo ir ao hospital. Vai, claro, se for algo que consideres extremamente relevante.

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Agora que já esclarecemos alguns pontos, vamos ao cerne da questão: a quarentena!
Todos nós já dissemos que só queríamos uns dias para ficar em casa, sem ter de ir trabalhar, sem grandes obrigações e, sobretudo, sem ninguém para nos chatear (como quem diz, longe do mundo). Pois bem, cá o temos! O problema maior é que nunca estamos satisfeitos (principalmente neste caso porque não é por um bom motivo) e, então, não sabemos o que fazer de tão aborrecidos que estamos. Verdade? Verdadinha!
Em primeiro lugar, deves ficar contente e grato por ter essa possibilidade. Há milhares de pessoas que neste momento estão em risco porque não podem ficar em casa. Não encares a quarentena como um castigo, mas sim como um privilégio. Por isso mesmo, uma vez que tu podes, aproveita-a e cumpre-a à risca.
Sei que é chato. Eu também não gosto de estar muito tempo em casa, muito menos sem poder conviver. Aliás, um dos fatores pelos quais gosto tanto de viajar é precisamente a sensação de liberdade que isso me dá e a forma como desperta os meus sentidos. Ainda assim, ser criativo é a melhor forma para encarar estes dias com ânimo e positivismo. Precisas de umas dicas para ocupar o teu tempo? Vamos a elas :)

- Faz algo que marque a diferença
É nos tempos de crise que se medem forças e nós, portugueses, já provámos imensas vezes que somos um povo extremamente solidário. Todos os dias vejo pessoas que aproveitam as suas capacidades e projetos para ajudar outras pessoas. Já pensaste que podes fazer o mesmo? São os pequenos gestos que fazem a diferença e uma vez que tens tempo livre, ajuda alguém. Um magnífico exemplo disso são os jovens italianos que decidiram colocar um papel no elevador do seu prédio a oferecer ajuda para ir às compras ou à farmácia das pessoas que fazem parte dos grupos de risco.
Tão simples, tão bom e que já foi tantas vezes replicado por cá! Vejo imensa gente que diz que gostava de partir em voluntariado para outro país. Não precisas de ir para longe, a ajuda pode ser prestada na porta ao lado.
É de louvar quem tem tomado estas iniciativas e, por isso, vou partilhar contigo as que for encontrando no Instagram do Blog 100 Fronteiras :) 

- Pega na ideia que está na gaveta
Aposto contigo que sempre quiseste muito fazer uma coisa mas que tens vindo a adiar. Agarra nessas ideias, nesse projeto ou nessa vontade e põe a mão na massa! Certamente que andas há imenso tempo a tentar dedicar mais tempo a algo, aqui tens o teu momento! Aprender uma língua, fazer trabalhos manuais, explorar novas receitas, ordenar o monte de papelada da década passada, fazer remodelações, escrever um livro, organizar as 3476 pastas do computador... Sei lá... Há tanto para fazer!!!

- Cultiva-te
Vá, todos os dias, mas... Dada a conjuntura atual, deves informar-te diariamente sobre os desenvolvimentos do covid-19. Há atualizações constantes de medidas e contingências que são extremamente importantes estarmos a par.
Depois, tens livros que nunca leste e séries e filmes infinitos que podes ver. Só com isto já tens horas de ocupação.

- Limpeza e arrumações de primavera
Não vale a desculpa de que “a primavera ainda não chegou”... Shiu!! Estamos no meio de uma pandemia, portanto toca a desinfetar a casa! Lava, limpa, arruma, esfrega, seca, passa, dobra, aspira. Há muito trabalhinho a fazer por aí ou pensas que o pó não chega ao canto inferior do armário de quina da sala? Pois é... A verdade é que também não há melhor sensação do que nos sentarmos no sofá depois da casa limpinha.

- Dá nova vida ao que já não usas
Seguindo ainda a onda das limpezas e arrumações, aproveita para fazer uma seleção do que já não precisas ou não usas. Há sempre alguém que vai dar uma nova vida a essas coisas. Abre o teu armário e vê a roupa que não usas há mais de um ano. Se não usaste neste espaço de tempo, é porque efetivamente não é fundamental.

- Põe a conversa em dia com aquele familiar ou amigo
Sabes aquele familiar ou amigo que prometeste cinco cafés e ainda não cumpriste nenhum? Talvez esteja na hora, porque até há tempo, de lhe fazeres uma chamadita para porem a conversa em dia. Uma vez que até temos tecnologia suficiente para isso, faz uma videochamada e deleitem-se, ainda que cada um na sua casa, de um fantástico chá das 5. 

- Mexe o rabiosque
Os ginásios estão fechados, mas independentemente de praticares desporto com regularidade ou não, faz por te mexer. Ficar muitos dias em casa leva ao comodismo máximo e às vezes o maior esforço praticado é levar a mão desde o pacote das bolachas, até à boca (não estou a criticar ninguém, este é o meu máximo desempenho em dias chuvosos de inverno). Há variadíssimas formas de fazer exercício em casa, nomeadamente com aulas no Youtube. Não precisas de ser muito exigente, procura uma modalidade qualquer, deita-te no chão e vai! Qualquer coisa é melhor do que nada. Se, por outro lado, treinas com frequência, deixo aqui a tendência do momento dos treinos dados pela @helenacoelho e o @ptpauloteixeira, em live, no Instagram, todos os dias às 19h30.

- Planta coisas
Bem, isto pode dar a entender que estou a sugerir para plantares qualquer coisa a dar para o ilegal, mas não... Ou sim, não sei... Tu é que sabes, mas planta alguma coisa. Não precisas de tirar um curso intensivo de jardinagem, mas acho super giro e interessante ver plantinhas a crescer. É sinónimo de que fui eu que plantei, cuidei e que fui bem-sucedida. Já viste que podes acompanhar o desenvolvimento da tua cria nos próximos dias? Além disso, tudo o que é verde traz paz, serenidade e bom ambiente. Sou sincera, não tenho muitos dotes nesta área, por isso fica aqui dito e escrito que vou empenhar-me em manter viva uma planta até à extinção do coronarívus!
(Das duas uma: ou estou muito confiante que isto se vai resolver em meia dúzia de dias, ou vou trazer uma planta vitalícia cá para casa. É que, tristemente, até os catos me morrem :( )

- Brincar e jogar é para todas as idades
Pega nos jogos de tabuleiro, nas cartas, no dominó e no caderno para jogar ao stop. Faz um remember aos jogos de infância e adolescência e vê como ainda é divertido.

- Aproveita as tuas crianças
Ainda não tenho filhos, mas todos os pais dizem que o tempo passa demasiado rápido e que crescemos muito depressa. O dia é uma corrida e a rotina nem sempre permite a disponibilidade necessária para dar atenção aos mais pequenos. Faz atividades com eles, deixa-os ser livres dentro de casa e dá espaço para a imaginação. Uma coisa é certa, vais ter sempre coisas para arrumar e mais brincadeiras para inventar e isso ajuda a combater a monotonia. Acredito que nestes dias sejam necessárias várias doses de paciência extra, mas quem não precisa?

- Planeia o teu futuro. Sim, planeia uma viagem!
Como costumo dizer “o tempo, bom ou mau, passa sempre”. Melhores dias estão para chegar e temos de começar a prepará-los! É verdade que não se sabe se é em abril, maio, junho ou até setembro, mas eles chegarão. Portanto, faz planos! Cria uma lista das coisas que mais gostas e queres fazer quando tudo retomar a normalidade. Esta é a melhor maneira de mantermos o positivismo e o ânimo. Não vou, de maneira nenhuma, marcar uma viagem para breve, mas é certo que vou começar já a cozinhá-las! Pode ser algo que faça só para o ano ou até para o outro, mas isso é algo que me vai fazer sentir bem. E mais... Vamos aproveitar estes dias em casa para poupar dinheirinho. A nossa economia vai precisar que voltemos aos restaurantes, aos museus, aos parques e aos hotéis.

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     Estas são apenas algumas sugestões, de tantas outras que existem, de atividades que podes fazer nos próximos dias. Lembra-te e foca-te que isto é um teste conjunto e que todos temos uma grande responsabilidade social de não falhar. A falha é grave, tem consequências e afeta-nos a todos. Em bom português, “mais vale prevenir, do que remediar”. Mais uma vez digo para tomarmos como exemplo o que está a acontecer nos nossos países vizinhos e para não nos deixarmos chegar a tal ponto. Têm circulado muitas frases interessantes nos últimos dias e que fazem refletir. Confesso que uma das que mais me marcou foi que “aos nossos avós foi pedido para irem para a guerra, a nós pedem-nos para ficar em casa”. Isto diz tudo. Não precisava de acrescentar mais nada, mas sinto-me na obrigação de o fazer. Devemos todos agradecer às forças de segurança. Aos camionistas. Aos motoristas. Aos jornalistas. Aos políticos. No fundo, a todos aqueles que, dia após dia, no escalar da dificuldade, continuam a desempenhar as suas funções e têm contribuído para apaziguar a situação e manter a normalidade possível de alguns setores. Devemos todos agradecer a todos os profissionais de saúde, por estarem na linha da frente contra um vírus que não se sabe bem no que ainda se pode tornar.

     Quem tem de continuar a trabalhar também tem família, mas vamos para cuidar ou fazer algo por ti. Podes ficar em casa?


Obrigada.

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