Comportamentos que só os portugueses têm em viagem


    Português que é português tem o orgulho lusitano bem cravado no peito. Português que é português consegue identificar-se a uma distância considerável, principalmente em contexto de viagem. Atenção, isto não é qualquer tipo de crítica, apenas temos comportamentos peculiares. Sim, claramente eu também estou inserida neste lote. 
    Com “apenas” 11 milhões de habitantes, há sempre um tuga em qualquer parte do mundo. Vão-me dizer que nunca encontraram um conhecido numa das vossas viagens? Eu já... E a mais caricata não foi um, foram dois! Já encontrámos uma prima do meu pai e um vizinho na República Dominicana. Qual é a probabilidade de isto acontecer?! É dos diabos! Mas vamos ao que interessa...
    Quando nós, portugueses, passamos para lá da fronteira, temos sempre formas de enaltecer as nossas origens, de as demonstrar e fazer sentir perante os demais. Já estás a imaginar, não já? Ora confere...

   - Falamos alto
    
    Falamos muito alto. O nosso timbre está sempre duas ou três casas acima do que é normal para os outros. Na verdade, em vez de falarmos, chegamos a berrar. Estão a ver como é que a prima do meu pai e o meu vizinho, em dias e em locais diferentes, fizeram notar a sua presença, não estão? Gritaram bem alto, lá do longe, “Lídia! Carlos! Hey! Também aqui estão? Epa o mundo é mesmo pequeno!”. Claro que toda a praia e, posteriormente, todo o resort ficou a saber que a República Dominicana era o novo Algarve para os portugueses.

    - Metemos sempre conversa

    Somos um povo tipicamente simpático e hospitaleiro, isso não há dúvidas e ainda bem que assim o é! Poucos são os que nos ficam à frente nesta categoria e, por isso, encaramos todas as pessoas do mundo como amigos. Entramos no avião ou no autocarro e, se bem repararem, enquanto estamos à procura do nosso lugar, vamos sorrindo para as pessoas, como quem diz “Olá, tudo bem? :)”. Depois há realmente aqueles que, confesso que adoro ouvir, dizem bom dia, boa tarde ou boa noite, mesmo tendo noção que há a probabilidade daquela pessoa não perceber o que estamos a dizer.
    É quase 100% certo e garantido que quem for ao nosso lado, no mínimo, pergunta se estamos bem e confortáveis. Se vamos visitar alguém de família ou se vamos em lazer. Tudo pode ganhar outra dimensão e, entretanto, estamos a saber toda a vida dessa pessoa e, por sequência, de todos os familiares.   
    Mais do que em transportes, a conversa fiada acontece em restaurantes, bares, centros comerciais e na rua. Basicamente em qualquer lado. Se o encontro entre tugas se der no estrangeiro, rapidamente fazemos fortes laços de amizade e até passamos a semana inteira de férias com essa família.
    Claro que todos estes exemplos também se podem aplicar a estrangeiros, principalmente se estiverem à mistura meia dúzia de cervejas (não minis, que isso só nós é que temos). Aí, elogiamos ao máximo o nosso fantástico Portugal!

- Somos Poliglotas

Nunca poderia dizer que um dos mais distintos comportamentos tuga em viagem era o de meter conversa com toda a gente sem dizer que temos um cariz especial e nato para falar outras línguas. Venha quem vier, de que país for, ninguém nos ganha nisto! Qualquer um pode visitar o nosso país, podemos ir a qualquer parte do mundo, que a nossa capacidade do “desenrasca” nunca nos deixa ficar mal. Podemos dizer “Se a ti te gusta a mim me encanta”, “Je vai a manger à la maison”, “Hello. One café, please” e, até chinês “Quanto queles?” (fazendo ao mesmo tempo aquele gesto com os dedos que significa dinheiro), que certamente conseguimos passar a mensagem pretendida. Podem não acreditar, mas tenho tanto orgulho nisto!

          - A lei do desenrasca

    Mais do que seguir a Constituição, um verdadeiro português tem sempre como base à sua vida e sobrevivência o “desenrasca”. Do nada conseguimos fazer tudo, da tragédia fazemos a comédia, do azar encontramos a sorte (no final ainda alguém paga um copito e já valeu). Seja qual for o contratempo conseguimos sempre dar a volta.

- Pontualidade portuguesa

A mais conhecida das pontualidades é, obviamente, a britânica, precisamente por não darem margem para erro. Tudo o que acontece fora desse horário, é português.
No aeroporto podemos identificar os nossos compatriotas porque somos aqueles que estão a correr. Numa paragem de autocarro somos os que chegam em último e dizemos “Ufa. Mesmo a tempo :)” (foi por um triz que não ficámos em terra, mas ainda assim o nosso subconsciente ainda é capaz de dizer que tínhamos tido tempo para tomar café com mais calma). Nos concertos e espetáculos temos coragem de entrar quando as portas já estão fechadas, com o desplante de fazer levantar toda a gente até chegarmos ao nosso lugar.
Ainda assim, do lado inverso da moeda, somos os últimos a querer abandonar uma boa festa!


- Mania do piquenique

    Pode ser apelidado de marmita, bucha, farnel ou simplesmente de “ato de encher o bandulho”. Mais uma vez, português que é português, não sai de casa para lugar algum sem levar a sua sandocha. A fome dá em qualquer altura e sem aviso prévio, certo? Para quê gastar dinheiro quando podemos levar a trouxa de casa e abancar num qualquer espaço público?
    Apesar de muitos europeus já adotarem esta prática em viagem, não deixa margem para dúvidas quando vemos o pano com pontas rendadas, o pão, a garrafa do vinho com um copinho de alumínio, a chouriça e a navalha. Com isto, sinto-me em casa! Melhor cenário era praticamente impossível, mas não nos podemos esquecer que somos o povo que tem por hábito levar frango assado para a praia. Nesta já somos únicos, outra vez :)

- Os queixinhas

Não há como negar que, apesar de sermos cidadãos bastante alegres, temos sempre razão para queixa. Em tudo está sempre alguma coisa mal, ou podia ser melhor. O melhor exemplo disso é um dos nossos mais queridos provérbios “A galinha da vizinha é melhor do que a minha”. Se está frio é porque as temperaturas deviam subir; se vamos a um restaurante, podia ter cozinhado em casa que a minha comida é melhor; se vamos à praia, a areia incomoda; se ficamos em casa, é porque nunca vamos a lado nenhum. Só neste país é que é assim, uma desgraça!”.  

- Os gabarolas

Mesmo nunca satisfeitos na totalidade e criticando tudo o que se pode e se imagina, que se atreva o primeiro a falar mal das nossas raízes. “Já conheceste Portugal? Como não? É maravilhoso! Está sempre bom tempo, a nossa comida é fantástica! A cerveja é ótima e barata. Aqui custa 5€ e lá bebes a 1€! Toda a gente é simpática. É impossível não adorar e querer ir viver para lá. A sério. Se eu vivesse noutro país e fosse lá de férias, mudava-me para sempre, tal como a Madonna! Ah já para não falar que temos o Cristiano Ronaldo e a Sara Sampaio”. Resumindo, é esta a ordem do discurso.   

      - Outros comportamentos esquisitos

Devemos ser os únicos que batem palmas no final de uma aterragem (quem nunca o fez que atire a primeira pedra);
* Quando chegamos ao destino num meio de transporte, assim que para, levantamo-nos e aguardamos em pé até que a porta abra;
* É muito comum ir uma chouriça, um queijo da serra, um pedaço de presunto, uma garrafa de azeite ou até uma posta de bacalhau numa mala de um português;

    Não sei se conhecem o ditado popular “Onde quer que vandes mostrandes o que sandes”, mas é muito utilizado na minha terra. Na verdade, resume todos os pontos que abordei aqui. Independentemente do sítio, ser português é ser genuinamente tudo isto e comportar-se assim. É queixarmo-nos da vida e de tudo, mas só nós o podemos fazer. É, na verdade, a nossa forma de mostrar o orgulho de ser português!


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Comentários

  1. Muito bom! É mesmo muito isto! :-P

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  2. Tão verdade. Revejo-me completamente neste texto :)

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  3. Acho que os franceses ainda gostam mais de piquenique que os portugueses, pelo menos fora dos grandes centros urbanos.

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  4. Acho que os franceses ainda gostam mais de piquenique que os portugueses, pelo menos fora dos grandes centros urbanos.

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