O dia em que fiquei “presa” no aeroporto de Stansted
Além fronteiras, Londres é a minha cidade
preferida. Pode ser básico para alguns, cliché para outros, mas para mim é a
cidade que de certa forma me enche o coração. Por mim visitava as terras de sua
Majestade uma vez por ano e, se algum dia pensasse em ir viver para fora de
Portugal, esta seria a minha escolha. Tenho um carinho mesmo muito especial por
esta capital porque, na verdade, foi a minha casa durante uns tempos quando era
pequenina.
Em novembro de 2017 fui a Londres pela terceira
vez, nem imaginam como estava feliz! Foi uma viagem marcada em cima da hora e
um pouco de cabeça fria, já tinha dois destinos para esse mês (ups!), mas o valor
era mais do que convidativo. 39.98€ ida e volta. Completamente irrecusável!
As peripécias começaram ainda cá. Logo de
madrugada no aeroporto de Lisboa decidimos tomar o típico pequeno-almoço
português, não fossemos sentir falta de um pastel de nata nestes três dias de
viagem. Naquele momento, não nos passou sequer pela cabeça que o Reino Unido
não é espaço Schengen e que leva mais um tempinho para apresentação de documentos.
Conclusão: já estavam a fazer a última chamada para embarcar quando fomos para
a fila. Ok, correu tudo bem.
Aterrámos cerca de meia hora antes do previsto
e isso, para quem vai só um fim de semana, parece fazer toda a diferença. Mais
uma vez, apresentação de documentos para oficializar a entrada no Reino Unido.
Ups (outra vez)! “Onde está a minha mochila?!:O ”. Em milissegundos tive um
flashback do meu percurso até ali... No avião... A mochila tinha ficado no
avião... Fui de imediato pedir ajuda ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
(SEF) do Reino Unido. Como é normal não dava para voltar para trás. Caso nunca
se tenham apercebido, todos os acessos finais só têm uma direção. Expliquei o
sucedido, que por esquecimento a minha mochila tinha ficado no avião. O meu
namorado foi obrigado a passar a “fronteira”, eu fui obrigada a esperar.
Indicaram-me o local para me sentar. Eu mais um casal, em que o rapaz era
refugiado e só podia viajar na companhia da mulher. Ali estávamos os três, na
mini “prisão” do aeroporto. Aguardei uns minutos até que uma polícia me disse
que ou a mochila realmente aparecia ou eu ia regressar no próximo avião para
Portugal. “Whaaaat?! :O”. Comecei a ficar impaciente até que um outro polícia
vem ter comigo para preencher uns papéis. Quem eu era, de onde vinha, que idade
tinha, qual o número do meu voo. Obviamente não sabia o número do meu voo. O
restante diálogo passou-se mais ao menos assim:
Polícia: Tem o seu documento de identificação?
Eu: Tenho na mochila, que está no avião.
Polícia: Tem outro documento que a identifique?
Eu: Está na carteira, que está dentro da mochila.
Polícia: Nem carta de condução?
Eu: Está junto com os outros documentos.
Polícia: E tem o bilhete de avião?
Eu: Também está lá dentro.
Polícia: Não tem uma fotografia de algum
documento no telemóvel ou no email?
Eu: Posso procurar, é possível que sim.
Polícia: Ok. Volto já.
Dois
minutos depois outro polícia...
Polícia:
Menina, está expressamente proibida de mexer no telemóvel.
A sério?! A sério que sim. Ficaram de olho em
mim e não arrisquei sequer mexer mais no telemóvel, nem para procurar algo que
me identificasse. Pois bem, nesse momento caiu-me a ficha de que
independentemente de quem formos, estamos reduzidos ao cartãozinho que diz quem
somos.
Entregaram-me um papel conforme estavam a
deliberar se me deixavam entrar no país ou não. Esperei no total cerca de 45
minutos até que, finalmente, um polícia veio com a minha mochila.
Perguntaram-me tudo o que tinha lá dentro e quando confirmei foi-me devolvida.
Estava toda remexida como é de esperar. Mostrei os documentos e de forma muito
fria, ao estilo britânico, explicaram-me o procedimento. Sempre que há indícios
de alguma irregularidade ou comportamento suspeito, essa pessoa tem de ficar
sob vigilância. Neste caso e devido aos inúmeros ataques que infelizmente têm
acontecido na Europa, uma mochila esquecida num avião é tanto algo comum como
motivo de alerta.
Tudo isto fez-nos perder uma hora e meia de
tempo e ganhar um susto valente. Ainda assim, ficam sempre histórias para
contar. Deixo-vos com o conselho que o polícia que me acompanhou me deu (mas
pensem numa cara bem zangada): “Don’t forget your belongings again, girl!”, -“Yes,
sir”.
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