O dia em que me pediram 89€ por 11 peças de fruta


    Podia dar aqui uma introdução e até fazer algum suspense sobre o tema, mas já está dito... Isto é um desabafo sobre a minha indignação por me pedirem 89€ POR ONZE PEÇAS DE FRUTA!!! Estamos a falar de FRUTA e não de TRUFAS COM CAVIAR que, apesar de nunca ter comido, calculo que esta combinação esteja mais próxima deste valor!
    Agora deves estar tu a pensar, e muito bem, para que raio de país é que eu fui para esta situação acontecer! Que, no fundo, fui eu que me meti a jeito... Ora bem, senhoras e senhores, foi mesmo em Portugal, na ilha da Madeira!
    Se há sítio de passagem obrigatória quando visitares esta ilha, sem dúvida que esse mesmo sítio é o Mercado dos Lavrados. Aqui, talvez mais do que em outra parte onde tenha estado, senti, vi e vivi alguns dos costumes madeirenses. Neste espaço encontras todos os símbolos de que a Madeira é feita: flores, ornamentos, poncha, peixe e, claro, fruta, muita fruta! Talvez não te tenhas dado conta, mas a Madeira tem um clima com algumas características tropicais. Isso é um dos fatores fundamentais pela quantidade de sabores estrondosos que vais levar daqui.
    Assim que entrei por estas portas perdi-me pela quantidade de flores que aqui vendem. É um verdadeiro deleite e uma perdição para quem gosta de jardins floridos. Comprei várias sementes na tentativa de aumentar o número de espécies no jardim lá de casa. Sim, sempre que possível compro flores ou plantas nos sítios que visito e ofereço à minha mãe, é uma recordação muito mais original e, se tudo correr bem, duradoura :)
    Continuei pelos corredores e, no meio da confusão, fiquei a admirar a banca das frutas. Eram formas que nunca tinha visto, muito menos entendia o que aqueles nomes queriam dizer. Era maracujá banana, maracujá tomate, maracujá melão... Um sem-fim de tipos de maracujá... E eu a pensar que só existia um! Até que, dada a minha indignação, pergunto ao senhor Marco o que era aquilo. Ele explica-me todas as combinações dos frutos e, faz ainda melhor, dá-me a provar cada um deles! A sério... Tinha um autêntico fogo de artifício na minha boca. E quando pensava que nada podia superar aquilo, ele diz-me para entrar que tem mais para me mostrar. Como assim havia mais?! Havia... Ainda havia uma banca com o triplo do tamanho! Portanto, continuei a abismar-me com mais frutos que não fazia ideia que existiam e, continuei a babar-me. Além de ter sido a melhor fruta que já comi na vida, foi dos melhores sabores que já experimentei. Todas, todas, todas, mas sem exceção, eram pedaços de céu. Não há palavras que expliquem a experiência gastronómica que tive naquela manhã. Desde cana de açúcar, a anona, a fruta do dragão, a manga, abacate e até a banana, tudo tinha um sabor completamente diferente.
    A determinada altura e dado o meu entusiasmo, o senhor Marco deu-me um saquinho para as mãos e começou a dizer “menina, esta tem de levar para o continente” e eu, pumba lá para dentro. “Menina, esta também não pode cá ficar” e eu, toca a meter para o saco. “Menina, esta ainda é melhor do que a outra que provou” e eu, “sim senhor quero levar”. Isto repetiu-se algumas vezes até que, dei conta que o saquinho já tinha algum volume e o espaço na mala era pouco. Com muita pena minha dei a escolha por terminada. Estava a ir para a caixa e a olhar para trás, quase com uma lágrima no canto do olho, por não poder levar mais daqueles frutos dos deuses comigo.
    O senhor Marco faz a conta e pede o total. Eu estava na conversa a trocar opiniões sobre qual era o melhor fruto de todos quando... O quê? O que disse? Como? Quanto? Eu?
    Na dúvida, podia estar a falar para outra pessoa. 89 EUROS O QUÊ?! Mas eu só tenho isto! Respondi, ainda ingénua...
    Disse com todas as certezas que devia estar enganado, mais uma vez, porque eu só tinha onze peças de fruta! Claro que o senhor Marco se riu na minha cara. Depois claro que eu me ri na cara do senhor Marco. Jamais, em tempo algum, iria deixar esse valor em peças de fruta. É que é fruta, porra!
    Sem meios nem rodeios, começo a tarefa de selecionais o que é que sai do saco. Perguntei quais eram as mais caras e foram logo essas que perderam uma viagem até ao continente. Acabei então a trazer quatro tipos de maracujá com qualquer coisa (só esta custava 35€ o quilo...). Estas quatro peças ficaram por 11.40€. Um valor mais aceitável comparado com os 89€ que pediram inicialmente, mas ainda assim, agora que penso bem, é um valor de um almoço ou um jantar...
    Ora, ultrapassado o choque e de regresso a casa, acatei com rigor o conselho do senhor Marco em deixar pelo menos cinco dias a fruta a amadurecer. Todos os dias olhava para elas na expectativa de já estarem boas e poder voltar a sentir aquele sabor divinal! Passaram os cinco, seis, sete e nenhuma estava com ar de estar pronta a comer. No entanto, começavam a apresentar algumas formas de querer apodrecer. Acabei por abrir e, mesmo que não estivessem no seu melhor ponto, mau não seria de certeza. O problema é nenhuma delas correspondia ao que tinha provado no mercado. Nenhuma! Eram todas ácidas e com pouco sabor. Aliás, eram tão más que uma delas foi praticamente inteira para o lixo. Parecia um limão. Fiquei com o coração e o paladar partidos!
    Achei isto tão estranho que pesquisei sobre as frutas da Madeira. Então não é que eles põem açúcar na fruta para ela ficar mais doce?! Pois é... É verdade que algumas frutas têm realmente um sabor muito mais apurado do que algumas que temos, mas não tem nada a ver com o tipo de sabor que eu provei naquele mercado. Assim faz sentido, como se costuma dizer, o que é doce nunca amargou.
    Moral da história: na tua visita à Madeira, vai ao Mercado dos Lavradores porque é um sítio mesmo muito interessante! Vai à banca das frutas, que há várias, prova tudo o que tens a provar e fica com todos esses sabores maravilhosos na memória. Caso queiras comprar alguma coisa, não te entusiasmes tanto quanto eu e, mais importante do que tudo, sabes que as peças que vais levar para casa não te vão causar diabetes, porque estas não têm açúcar :P


Aqui está um maracujá tomate, em território continental, disfarçado de limão :P





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