Millennials e o “bicho carpinteiro” das viagens

       

    Os millennials, também conhecidos como geração Y, são aqueles que nasceram entre 1980 e finais dos anos 90. São aqueles que vieram integrar a era digital mais avançada e que cresceram com ela. Simplificando este conceito para a parte prática, os millennials são descomplicados, procuram ferramentas práticas para o dia a dia, mas sem nunca desvalorizar a exigência. É a geração da internet, do virtual e das aplicações, onde tudo está literalmente à distância de um clique. Mas significa isto que estamos no topo do consumismo e materialismo? Talvez sim para a primeira, certamente que não para a segunda.

    Já há diversos estudos sobre os millennials e, em todos, há pontos de concordância. Somos mais preocupados com questões sociais e ambientais, somos mais tolerantes e apelamos à igualdade. Uma das razões? Somos das gerações mais predispostas a viajar e a conhecer o mundo! A verdade é que viemos alterar um bocadinho os padrões sociais e trouxemos um desafio a vários setores, nomeadamente ao das viagens.

    Atualmente, utilizamos aplicações, blogs, vídeos e servimo-nos das experiências de outras pessoas para criar o nosso próprio roteiro e partir à aventura, algo que antes era feito com programas pré-definidos pelas agências de viagem. Exploramos ao máximo as companhias low cost, os hostels, o couchsurfing e as promoções. Partilhamos as nossas experiências e não nos ficamos apenas pelo “belo” e o “bonito”, os sítios turísticos e os lugares habituais das fotografias de postal. Queremos ver e sentir a realidade dos sítios e das pessoas. Fazemos disso o verdadeiro manual, onde aprendemos a respeitar, tolerar, compreender o outro e, mais do que nunca, tentamos fazer da diferença a união. Quem não está disposto a isso, simplesmente não mete uma mochila às costas e vai. Não abdica do conforto do lar por um quarto partilhado ou um colchão no chão. Não dispensa um jantar fora por um bilhete de avião.

    No meu entender nós não materializamos, nós fazemos por adquirir recordações, emoções e histórias que de outra forma não existem ou não nos completam a este ponto. Para os millennials, mais do que sonhar com a possibilidade de um dia vir a conhecer determinado sítio, é garantir que isso vai acontecer. Mais do que planear o futuro, vivemos o presente. Claramente que não somos o melhor exemplo de pessoas que enchem o mealheiro, isto porque estamos sempre a juntar a meia dúzia de trocos suficiente para conhecer o próximo sítio.

    Isso pode ser um tema complicado para os nossos pais, familiares e até amigos compreenderem. Porque é que no auge dos nossos “20” não estamos a pensar juntar dinheiro para um carro ou uma casa como seria suposto. Não. Provavelmente esta é das últimas preocupações que temos na nossa lista. Talvez seja um pensamento para os “30”. Sabemos que esta geração mudou, que é diferente e que nestes novos “20” é tempo de ver o mundo. Sim, o mundo, aquele lugar em que todos vivemos e queremos conhecer. Onde queremos descobrir sítios, culturas, histórias. Onde queremos apurar os sentidos, compreender mais e melhor os outros, lidar com situações adversas, imprevistos e, acima de tudo, connosco próprios. É a ultrapassar estas barreiras que atingimos sonhos e objetivos. É ao sair da zona de conforto que descobrimos um novo bem-estar. É uma necessidade de nos colocarmos à prova e superarmos expectativas.

    Sempre cresci a ouvir a expressão que tinha “bichos carpinteiros”. Para quem não conhece, é uma forma de dizer que não paras quieto. Mais do que quando era criança, acho que nunca tive tantos “bichos carpinteiros” como agora. Um sentimento insaciável de conhecer e uma vontade de explorar cada vez maior. Quem já sentiu isto é porque já tem o “bichicho” dentro de si, quem ainda não sentiu, é porque a viagem começa agora :)  

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