“Skip the line” - Um dos negócios mais rentáveis do Vaticano


    Já estive duas vezes no Vaticano e há três coisas que são surpreendentes: primeiro, a beleza desta cidade-estado, em segundo, o negócio que é feito em torno do negócio megalómano que já é o Vaticano e, em terceiro, o facto de os senhores que vendem o “skip the line” (escapar da fila) conseguirem perceber a nacionalidade de cada uma das centenas de pessoas que por ali esperam pela sua vez. É principalmente sobre estes dois últimos que vos quero falar.
Convicções à parte, é necessário encarar a entrada no país mais pequeno do mundo como sendo uma visita a um museu que, regra-geral, têm filas para entrar. A diferença é que no Vaticano esta espera pode levar várias horas!
    É aqui que aparecem os senhores vendedores. Há dezenas deles por ali, rapidamente identificáveis com mapas na mão e, ao pescoço, um cartão com o número de línguas que falam. Na verdade, são uns verdadeiros poliglotas e uns mestres nas abordagens que fazem. “Hello!”, “Hallo!”, “Portugal ou España?!” “Ohh Cristiano Ronaldo!!!”. O objetivo é comum: vender um passe que vos permite passar à frente de toda a gente.
    Rapidamente criam empatia com quem, desesperado, espera. Fala-se de tudo e de nada, uma piada para arrancar um sorriso e logo a seguir mostram o “cardápio” de opções para não ser necessário continuar ali.
    A proposta começa por parecer aliciante – visitar a Praça e a Basílica de São Pedro, a Capela Sistina e os Museus do Vaticano, sem ter de aguardar mais um segundo! Mas... E o valor? Uma das propostas que me fizeram foi 110€ por pessoa. Eu não cedi. O pior é que há quem pague mais que isso... O que é que acontece? Então é o seguinte... Esses senhores estão a fazer o seu trabalho, em que só cai na ratoeira quem quer, quem está realmente muito desesperado ou então que, claramente, está mal informado. Estes “pacotes” podem ir dos 30€ aos mais de 100€ por pessoa. No entanto, o preço real são 16€ na bilheteira, 20€ em compra online, 8€ para estudantes (estão a ver onde quero chegar?!). E, imaginem só... Com entrada na Praça e Basílica de São Pedro, na Capela Sistina e nos Museus do Vaticano (o mesmo programa). Parece que em algumas situações esperar pode ser mais do que uma virtude!
    Ok, a única vantagem destes passes prioritários é que há corredores interiores para a passagem de grupos com guia. Por exemplo, há um que liga a Capela Sistina e o interior da Basílica, enquanto com o bilhete normal é necessário fazer os corredores todos até à Praça de São Pedro e aguardar para entrar lá dentro. Ainda assim, continua injustificável.
    Aguardar pode ser duro, o melhor é ir de manhã bem cedinho, até porque todos os locais que devem ser visitados ocupam um dia inteiro. A abordagem dos vendedores é ainda mais dura e isso pode levar a tentação a ganhar terreno.
    Este negócio é tão rentável porque realmente são milhares os que visitam o Vaticano diariamente. Imaginem um quadrado grande, agora imaginem dois lados (numa hora boa) com pessoas em fila. É este o cenário que encontram quando chegam às imediações para entrar, nada empolgante...
    Quando visitei o Vaticano pela primeira vez, em outubro de 2014, foram quase três horas de espera, mas três horas daquelas que realmente custam a passar, com muuuito calor. Foi já na fila que descobri que era possível comprar bilhete online que permite agendar o horário e entrada quase imediata (agora também já ficaram a saber :)). Não hesitei, comprei e lá fui eu! Ainda assim, não consegui visitar a Basílica, a fila dava literalmente a volta à Praça de São Pedro. Para a Capela Sistina, entravam pessoas de molho a molho (vejam o conceito de “gado ao minuto” e vão perceber a comparação), a quem os seguranças pediam imediatamente para circular dali para fora. Pensava eu que me podia sentar e em silêncio contemplar uma das obras que mais admiro, ver todas as formas e examinar cada detalhe. Uma loucura e um sonho, portanto.
    Em novembro de 2017 fiz a visita pela segunda vez. Agora já bem mais preparada para o cenário que me esperava, sabia o que fazer:
Ponto 1 – Comprar bilhete online;
Ponto 2 – Não dar hipóteses ao “skip the line”;
Ponto 3 – Mentalizar-me que estaria uma manhã à espera na fila para conseguir um bilhete normal.
    Na realidade, os bilhetes online estavam todos esgotados, acabei por tentar negociar ao “skip the line” dois bilhetes por 40€ (faz o que eu digo, não faças o que eu faço). Sem sucesso, mas ainda bem! A espera acabou por ser apenas de 1 hora e 40 minutos e os dois bilhetes ficaram pela módica quantia de 24€. Como? Um inteiro (16€) e outro com desconto de estudante (8€). Não dei bem pelo tempo passar e ia-me divertindo a observar as pessoas e os negócios que por ali se faziam.

    Já dentro do Vaticano, apesar de também estarem milhares de visitantes e ser quase claustrofóbico andar pelos corredores, era mais fácil circular pelos espaços maiores do que na minha primeira visita. Desta vez sentei-me na Capela Sistina, ignorei a multidão e o barulho e contemplei cada pedacinho das paredes e do teto de Miguel Ângelo, que tanto admiro. Consegui entrar na Basílica de São Pedro, onde logo à entrada está a Pietà, uma das minhas esculturas preferidas também. Não vi o Papa, mas com isto fiquei com o dia feito.






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